28.1.09

Ramilpolar e polares

Noutro dia de janeiro, ouvi Vitor Ramil cantando sobre o frio enquanto passeava no centro de Porto Alegre. Deu-me uma dor no peito. Coisa que arde os olhos e dilacera qualquer impressão de calma. Não entendia a conexão.

Subi a Marechal, desci a Andradas, atravessei a Caldas Junior e fui dar no Centro Cultural do Quintana, sem ambiguidades mundanas. Sentei num bar e pedi uma gelada pra ver se atenuava meu dissabor. Nada. A cerveja amarga me deixou em transe. Meu peito virou inverno. "Chove na tarde fria de Porto Alegre...", quase chorei.

Explodiu uma caricatura de casacos em minha mente. Guarda-chuvas tremiam sob trombas d´água e o frio... o frio não existe sob um calor de 38 graus (o Celsius que me perdoe, mas vai se fudê! O Farenheit é que tá certo. 101ºF traduz o sofrimento). A única sombra gélida que me cobria era o copo gotejando em minha mão. A cabeça parecia uma bola de ferro em brasa, meu corpo todo ardia. Meus olhos queimavam e imaginavam o inferno ouvindo Ramil. "Conexão impossível", pensei.

Saí dali rumo ao Gasômetro. No caminho, me esgueirava por baixo das árvores em fuga, quando elas apareciam. O sol me perseguia. Eu me irritava aos poucos com a minha pele em profusão. Urgi clemência. Parei mais um pouco e segui parando.

O calor não tem estética, é antirroupas, segundo a nova ortografia de merda. Ele esmoirece as pernas, embambeleia as mãos, subjaz a cabeça, transmuta verbos. Vitor Ramil deve estar de férias. Certamente, ele não canta no verão.