8.12.08

Reticências





Houve um tempo em que John Fuckin' Lennon cantava Imagine como se aquilo pudesse realmente acontecer. Houve outro tempo em que Ghandi revolucionava com paz. Em que a Terra era mais jocosa em sua amabilidade humana. Eram retratos de um mundo melhor, mas que ninguém sabia. Todos acreditavam que o melhor ainda estava por vir num otimista engano.
Quem não queria viver Woodstock, tomar ácido até se cagar, fazer amor com as cabras e os cabritos, ficar peladão o tempo inteiro, queimar um super-baseado e mostrar que aquilo era o que os soldados ianques de fraldão deveriam estar fazendo em vez de empunhar armas e tomar tiro.

O maior problema é que se perdeu a poesia do troço. Onde estão os novos Nerudas, Drummonds, Augustões, Fernandinhos Pessoinhas, Blakes, Quintanários, Vinicius, Us? Cadê a poesia, ia? Na casa da tua tia, ia? Cadê o amor, or? Tá na casa do Alaor? Alalaô, ôôô, ôôôr...

Hoje não temos mais cachaça de graça, nem dá-se o brioco com a mesma consciência mundana libertária de outrora. A Aids trupica na mente dos amantes, a guerra é diária em nossas cidades. O amor é efêmero, assim como a vida, que não tem mais tanto valor. Mata-se por um tênis, um pênis, por um trocado, um time equivocado.

Nasci no ano errado. Os anos 2000 e pum podem ser os últimos da nossa vã existência. Segundo o calendário maia, 2012 é o fim. É doloroso pra quem não é masoquista. Em 1978, eu deveria ter 35 anos. Em 1969, 26. Era o auge. Hoje, seria lenda.

Tocou-se o ébrio áureo do resplandecer
O tudo e o nada se amaram num desbunde paradoxal
Os punhos se abriram
As vozes se afagaram

Toda flor à sombra lembra o sol que se foi
Assim como a nostalgia do que não se viveu
Vive o sonho inexistente do ardor de um tempo não presente
E da tua luz que em mim nunca, e sempre, brilhou.

Até ontem o hoje era o amanhã de coisa boa qualquer
Hoje, amanhã não tem mais carnaval
Não tem chorinho, coisa e tal
Não tem mais bundalelê, eu e você

O que era já foi
Esqueça o que passou
Engula essa porra dessa dor
E respire reticências

9 comentários:

Anônimo disse...

Legal o blog... Mas me conte: qual o segredo do universo? ;) beijos

Tiago Seidl disse...

Segreeeeedo... segredo é segredo. Só conto ao vivo. Se contar. Tudo depende da ocasião e se o Raul me permitir, aquele lókioverdótico!

Tiago Seidl disse...

Se eu fosse tu, xuxu, acompanhava meu blog. É só ir embaixo dos feeds ali, em seguidores. Dê uma forcinha pra esse aspirante de iniciante. Beijo.

Bina disse...

amado, que bom te ler!
também voltei aos escritos, passa lá: adancadafenix.wordpress.com
beijos, Bina

Anônimo disse...

Este poema é uma obra prima. Parabéns! É um daqueles textos que eu gostaria de ter escrito. Sucesso para você e o blog.

Anônimo disse...

muito bom.
siga em frente!

Leandro Coimbra disse...

quase gozei

Bela Figueiredo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Caaaaaaaaaaaaaaaara, c eu fosse mulher, t dava só por kusa desse texto, bagal!!!!